
Conheço o trabalho deste sujeito desde muito pequeno. Pequeno mesmo.
Eu devia ter uns 6 anos quando vi pela primeira vez, numa madrugada na TV (sim eu já tinha problemas de insônia), "A Dança dos Vampiros (1967)" e lembro ter me divertido muito com o filme.
Achei diferente dos filmes de vampiros que já tinha visto (uns 5 ou 6 na época). Era engraçado e mantinha um clima, digamos, "romeno" (isso mesmo, não é "romAno"). Existia algo sombrio que assustava um pouco. Talvez pelo fato de ser um filme de época, aquele frio, neve, neblina. Lembro que gostei.
Tornei a vê-lo mais umas 5 vezes de lá pra cá. Mas já faz tempo que não vejo e é hora de nos reencontrarmos. Vou aproveitar o fato de minha mulher estar se iniciando no mundo cinematográfico (como espectadora, não adianta mandar roteiros pra ela) e fazer a propaganda desta longínqua obra.
Depois, ainda criança, mais ou menos na mesma época assisti Chinatown (1974).
Uma obra prima. Um dos filmes de policial noir mais bem construído da história do cinema e que ainda hoje permanece jovem. Só não levou uma "pilha" de Oscars por ter tido a infelicidade de concorrer contra "O Poderoso Chefão II (1975)".
Depois disso, já com meus 8 anos assisti ao "abençoado" "O Bebê de Rosemary (1968)". Na época não achei legal. Claro era apenas uma criança de 8 anos. E crianças de 8 anos quando assistem filmes de terror esperam sangue jorrando aos baldes (tipo Carrie - A Estranha (1976). E de fato não é bem isso que acontece. Depois mais velho e realmente conhecendo o seu criador pude "entender" o recado. Gostei. Claro que nos dias de hoje perde um pouco a força por razões óbvias. Os recursos técnicos envelhecidos, falar do Diabo não é mais coisa.....do Diabo. Mas na época foi um escândalo. E o filme é "redondinho", muito bom. E serviu de ponta pé inicial para uma nova linguagem no cinema.
O erótico e nota 7,5 "Lua de Fel (1992)" e "Morte e a Donzela, A (1994)" foram os filmes seguintes. Lembro que o último, me intrigava pelo fato de ter praticamente o filme todo somente 3 pessoas no elenco. Também gostei.
Veio depois mais um filme "demoníaco" do diretor. "O Último Portal (1999)" que é regular, mas passa anos luz da genialidade de "um figura" como Roman Polanski.
Mas ele se reabilitou com honras em "O Pianista (2002). Este sim um daqueles filmes que ficam grudados na sua mente, na sua pele e na história do cinema. E serviu para Polanski expurgar seus demônios de infância, no tempo em que viu a guerra de perto, na porta de sua casa.
Mas não vou falar da vida pessoal de Roman Polanski. Prometo que um dia farei isso.
A morte estúpida de sua mulher Sharon Tate (uma das mulheres mais lindas já vista no cinema), II Guerra Mundial, seu (bom) gosto por mulheres (mais jovens), acusações de estupro no passado, prisão domiciliar........outro dia prometo que falo.
Mais recentemente assisti "O Inquilino (1976)" e "Repulsa ao Sexo (1964)". Ambos comprovam que a mente do diretor polonês, além de perturbada e complexa, é também genial já faz muito tempo.
Mas agora vamos (finalmente) ao que nos interessa (do contrário você não teria chego até aqui).
"O Escritor Fantasma (2010)".
O filme "cinza" de Polanski. O suspense moderno de Polanski. Moderno no sentido de ter sido feito AGORA. Mas que na verdade não traz nenhuma novidade em termos de sinopse. Tramas políticas, assassinato ou suicídio e essas coisas.
Moderno porque toca numa realidade atual. A Guerra do Iraque e a relação (suspeita) entre os governos dos EUA e o da Inglaterra.
Filme que foi finalizado dentro do chalé/prisão de Polanski e que agora, o assistindo chega ser curioso o fato dele ter sido preso pouco antes de lançar um filme que fala sobre desmandos governamentais e a participação nebulosa da CIA no meio disso tudo. O detalhe é que o processo de estupro contra o diretor polonês parte dos EUA. E na verdade, como ficou constatado após sua prisão na Suíça e depois libertação por parte da justiça da própria Suíça, é que só a justiça dos EUA (ou será o governo?) quer ver o diretor, que não pisa em solo norte-americano por razões óbvias, preso.
Como já comentei antes não gosto de escrever sinopses. Então não o farei.
Vou comentar o filme.
Ele tem estilo. É requintado, tem uma fotografia "cinza" (por isso, o filme cinza) interessante. O aproveitamento da luxuosa casa de praia/quartel/cenário foi fantástico e o roteiro foi cuidadosamente tecido por um mestre (o próprio diretor).
Ewan McGregor (que faz o tal escritor fantasma) normalmente tem críticas não muito favoráveis a seu respeito. Eu não concordo tanto. Embora jamais tenha feito um filme decolar (como um Jack Nicholson) acho que ele NUNCA atrapalhou filme nenhum, feito que para um ator já é extraordinário.
Mas desta vez ele se superou. Até mesmo os críticos da área (aqueles caras que odeiam cinema porque jamais conseguiram fazer um filme) estão elogiando a atuação do ator escocês.
Com um ar meio ingênuo que combinou bem com o papel de um homem que está no lugar errado, na hora errada e tenta fazer o que não podia. Descobrir coisas.
Outro que faz parte do elenco é Pierce Brosnan.
Esse aparece pouco no filme que tem aproximadamente 2 horas de duração. Mas quando aparece rouba a cena.
Cheio de charme, carisma e um bem dosado cinismo. Faz um ex-primeiro ministro inglês que consegue nos deixar com dúvidas sobre o fato de ser um canalha ou vítima das circunstâncias. Inspirado nitidamente em Tony "Bruxa de" Blair (eu gostava dele.....gostava).
A trama que parece meio chata e desnorteada no início ganha força com o passar do tempo. Como ensinou o Mestre/Gênio Hitchcock, um bom suspense tem que crescer aos poucos.
O espectador deve começar o filme bocejando e termina-lo com suas unhas roídas.
E é isso que Polanski consegue fazer.
Aliás, o clima de suspense, a fotografia acinzentada, a trilha sonora (muito boa), tudo faz lembrar o velhinho Hitchcock.
Acho até que (com certo exagero) se não tivesse existido Hitchcock não teria existido ESSE Roman Polanski. Ou Polanski seria Hitchcock.
Pra quem não gosta de filmes do belga briguento, ou películas estúpidas, esse é um que vale uma conferida.
Não que ela tenha um final surpreendente....até que tem......mas não é como o "Sexto Sentido (1999)". Mas também Polanski não é Shyamalan, que gosta dos "finais surpreendentes".
Polanski não faz finais. Faz filmes. Ótimos filmes.
Um comentário:
Realmente.... Fiquei muito curiosa pra assistir!!!! Adoro esse tipo de filme!!!
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